segunda-feira, 19 de março de 2012

UM NOVO TEMPO, UMA NOVA TV


A TV mudou demais ao longo dos últimos anos e décadas. Fisicamente, ela deixou de ser aquele trambolho enorme, que ocupava um espaço considerável em nossas estantes, e se transformou num objeto mais de acordo com os padrões estéticos vigentes, ficando mais esbelta, leve e fininha. Agora, em sua versão "top", ela também oferece uma resolução de imagem jamais vista, ocupando um espaço quase pífio, podendo ficar - oh, maravilhas tecnológicas! - até mesmo pendurada na parede de nossas salas, dispensando o altar que antes lhe era dedicado em quase todos os lares do país.
Mas até aí contemplamos, basicamente, apenas os avanços tecnológicos sobre os aparelhos televisivos da modernidade que, sem dúvida alguma, revolucionaram nossa forma de assistir aos nossos programas favoritos nos últimos tempos. As mudanças externas, como se pode ver, foram muitas e muito significativas, mas as internas, como também veremos, foram enormes e, podemos afirmar, igualmente definidoras e definitivas nesses novos tempos: a TV e seus programas, como você já deve ter notado, não são mais os mesmos.
Os programas mais vistos de antigamente - novelas e telejornais, carros-chefes de muitas de nossas maiores emissoras - hoje enfrentam, além da tradicional e natural concorrência de outros canais, também a forte concorrência de outras mídias, que "roubaram" para si a atenção e o tempo dos telespectadores, cada vez mais interessados em interagir com seus ídolos e, quando não, interessados em se tornar, eles próprios, qualquer sorte de pseudocelebridade, ainda que por contados minutos de fama, num reality show qualquer da vida ou nas incontroláveis páginas do YouTube e do Twitter.
Aliás, cumpre frisar, reality shows são, com toda certeza, a cara dessa nova geração de telespectadores dos anos 2000, interessada, sobretudo, em se ver estampada e reproduzida na telinha, num nítido ímpeto narcisista, tão vazio de conteúdo quanto repleto de vaidade, nonsense e soberba. Uma lástima, vamos convir.
Junte-se a isso o fato de que audiência raramente embarca com o mesmo encanto de antigamente nas produções televisivas atuais, simplesmente porque perdeu a capacidade de sonhar e fantasiar diante da TV. É a realidade do seu cotidiano que elas esperam encontrar ao ligar o aparelho televisor e sintonizar seu canal preferido e não mais aquele mundo inatingível das elites, do luxo e do glamour. Um fenômeno social bastante interessante e significativo, que diz muito sobre o perfil da programação da maioria das nossas Tvs abertas. Qualquer programa de "barraco" e baixaria, hoje, consegue mais audiência na TV aberta brasileira que um documentário de conteúdo ricamente produzido/elaborado ou um programa de debate que priorize a discussão inteligente de ideias e comportamentos.
As telenovelas, meninas dos olhos de qualquer grande emissora do país, também vêm mudando o seu perfil. Sua longa duração tem sido progressivamente encurtada e as histórias contadas ao grande público tendem a se aproximar, a cada nova produção, do realismo/naturalismo dominante no atual estágio da novela brasileira. É claro que exceções pipocam, de quando em vez, aqui e ali mas, em tempos de massificação, "ser diferente", não obstante, pode custar muito caro. Seguro mesmo é apostar na tendência que vem arrebatando a mais gorda fatia dos telespectadores que ainda se rende aos encantos da boa e velha televisão e "popularizar geral", alimentando o "monstro de mil cabeças" com aquilo que ele implora por consumir: sempre mais do deprimente e inculto mesmo.
E alguém aí se lembra dos programas infantis? Filão tão brilhantemente consagrado no Brasil por Xuxa e perpetuado por suas inúmeras imitadoras nos anos 80 e 90? Pois é. Ficaram lá, no passado! A audiência infantil dos nossos dias está mais conectada aos jogos e atrações virtuais do que naquele velho formato que, um dia, rendeu à televisão o simpático apelido de a "babá eletrônica". Não há qualquer atrativo para a criança contemporânea nos programas apresentados por palhaços, moças louras ou mesmo... outras crianças! Sim, tentou-se de tudo mas, ao que parece, nada cativou mais a fidelidade do público infantil. Também colaboram para esse retumbante fracasso as animações nonsense e escalafobéticas, muito diferentes dos bons e velhos cartuns de antigamente.
O jornalismo não ficou de fora dessa profunda transformação e decidiu tirar o terno e a gravata e se aproximar do público através de comentários mais descontraídos entre uma manchete e outra, transformando os âncoras em figuras mais carismáticas e simpáticas, próximas do telespectador. Sinal dos tempos: quem diria que a formalidade que sempre imperou no telejornalismo fosse dar lugar a um "papo menos formal" com a audiência?
Apelações? A televisão atual está saturada delas! Sejam de ordem sexual ou de caráter sensacionalista, qualquer atração da TV aberta atual, em algum momento, se rende àquilo que pode garantir décimos a mais na disputa acirrada pelo IBOPE.
Mas, em tempos de gratuidade e desinformação, nem tudo são agruras no universo televisivo.
Muito felizmente, mesmo num tempo em que a qualidade perde espaço para a quantidade nas nossas telinhas, há produções e profissionais de bom gosto e inteligência que resistem com talento e garra à "bundalização" da nossa cultura e, ao resistirem, acabam se constituindo em verdadeiros exemplos a serem seguidos.
O "Quem te Viu, Quem TV" é um espaço de valorização e discussão de tudo o que há de melhor e mais interessante na televisão brasileira atual.
Não é um espaço de fofocas nem uma revista sobre a vida das celebridades - a rede está repleta de conteúdos assim e, se você está à procura disso, sinto informar, clicou no link errado! É um canal aberto para a comunicação de boa qualidade e profissionais que prezem conteúdo, qualidade e informação em assuntos relacionados a produções televisivas. Gente que entende o papel importante desempenhado pela TV em nossa sociedade e que quer contruibuir para que o bom senso e a inteligência não abandonem de vez a programação já tão deficiente de nossas emissoras.
Assina o sempre alerta e colecionador de raridades televisivas:

Ás Mascarado

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