sexta-feira, 23 de março de 2012

QUANDO A FAMA É USADA PARA O BEM

E eis que, na minha leitura rotineira de notícias sobre celebridades na rede, deparo-me com a seguinte nota, no site da revista CARAS, reproduzida na íntegra a seguir:

Rússia pode multar Madonna por defender homossexuais 


Madonna (53) tem uma polêmica e um show agendados para acontecer em São Petersburgo, na Rússia, em agosto. A cantora corre o risco de ser multada em 5 mil rublos (algo em torno de R$ 310) caso defenda a causa homossexual durante sua apresentação – o que ela já afirmou que irá fazer. Recentemente foi aprovada em São Petersburgo uma polêmica lei que proíbe a propaganda homossexual na região. O deputado russo Vitail Milónov afirmou que Madonna também estará submetida às leis do país quando se apresentar por lá. "Se Madonna ou algum dos organizadores infringir a lei, será castigado”, disse à imprensa internacional. Irritada com a situação, Madonna divulgou uma carta em sua página no Facebook falando sobre o assunto: 
“Eu sou uma lutadora livre. Meu show, minhas músicas, meu trabalho, minha arte. É tudo sobre a liberdade de expressão. Liberdade de escolher, de falar e de agir. Sempre com humanidade e compaixão. Eu vou a São Petersburgo para falar com a comunidade gay, para apoiar a comunidade gay e dar força e inspiração para qualquer um que se sinta oprimido. Eu não fujo da adversidade. Eu vou falar durante meu show sobre esta atrocidade ridícula”, escreveu.

Quando a fama é usada para o bem

Decidi aproveitar o gancho para abordar por aqui outro assunto que considero muito relevante no universo das celebridades: a fama e o sucesso usados para o bem.
É fato que celebridades polêmicas como Madonna acabam reunindo em torno de si, às vezes com a mesmíssima intensidade, uma legião de adoradores fervorosos e apaixonados e, do outro lado, concomitantemente, um grupo tão numeroso quanto de opositores, caluniadores ou simplesmente antipatizantes.
A despeito da clássica dicotomia gostar X não gostar, pesa aquilo que a celebridade tem de bom ou de ruim enquanto figura pública, formadora de opinião e exemplo não só para seus adoradores, mas para a sociedade em geral.
É sob essa perspectiva que quero abordar o excelente exemplo dado por Madonna aos russos. Exemplo não de transgressão ou desrespeito às leis locais, mas de luta e engajamento mais que justos pelos direitos humanos, contra a segregação de qualquer ordem, a favor do respeito entre as pessoas, suscitando a discussão e a reflexão acerca de atitudes cruéis e desumanas não só contra homossexuais, mas contra toda e qualquer "minoria" (embora eu abomine o termo e não concorde com ele!).
E muito se engana quem pensa que o exemplo mencionado pela nota da CARAS é isolado na carreira da popstar internacional. Quem acompanha - ainda que de longe, como eu - a trajetória de Madonna, sabe o quanto essa respeitável senhora já levantou a sua voz para denunciar, defender ou mesmo enfrentar tudo aquilo e todos aqueles que, de alguma forma, mostraram-se como "castradores" ou censores da liberdade de expressão, oprimindo, julgando e condenando mulheres, negros, homossexuais, ateus, enfim, diferentes perfis, diferentes raças, diferentes estilos de vida.
Considerada um dos símbolos da emancipação feminina nos anos 80, Madonna, cidadã, mulher e, claro, artista, sempre buscou por onde fazer com que as pessoas parassem em meio à efervescência pop para refletir sobre seus direitos, seu papel e sua importância na sociedade em que vivemos.
Gostando ou não da música, da vida, do trabalho ou das performances da cantora, não há como negar que socialmente, Madonna cumpre com o importante papel de ser uma instigadora, uma fomentadora de questões polêmicas que não podem mais ser simplesmente "varridas para debaixo do tapete", como se já não tivéssemos lucidez e maturidade suficientes para trazê-las à pauta e as discutirmos à luz do bom senso e da justiça social, desfazendo ou minimizando os efeitos de preconceitos e violências antigos, completamente injustificáveis em pleno século XXI.
A fama, nesses casos, repercute para o bem. Um assunto como esse, trazido à tona por uma celebridade do quilate de Madonna, ganha não só força como dimensão incomensuráveis. O que era para ser um fato local, isolado, restrito a uma determinada comunidade, acaba alcançando proporções mundiais e levando o planeta todo a refletir a esse respeito, indignando-se junto com os diretamente afetados pela irracionalidade da agressão e da censura sofridos por eles.
Na esteira de Madonna, cabe frisar que muitas outras celebridades, nacionais e internacionais, não fogem à luta nem às suas responsabilidades de figuras públicas e influentes que são, arregaçando suas mangas em prol de muitas e nobilíssimas causas.
No devido tempo, para não esgotarmos num só post a pauta, mostraremos e falaremos de outros tantos exemplos notáveis e inspiradores que circulam por aí, no mundo, cumprindo o importante papel de representarem franca oposição aos mais diferentes atos de violência contra o ser humano.
Como tudo que tem dois lados e concentra em si duas energias opostas porém complementares, a fama pode, sim, e Madonna é a ilustração cabal disso, ser usada para o bem, promovendo ações sociais e contestações que merecem não só o nosso aplauso e a nossa admiração, mas também nosso respeito e nossa reflexão.
A favor do bom senso e dos bons exemplos, assina:

O Ás Mascarado

quarta-feira, 21 de março de 2012

POPULARIZAR É LEGAL?


Assistindo aos programas que pipocam na TV aberta, desde aqueles de auditório até as telenovelas, é inegável  que o fenômeno da popularização já se faz perceber a olhos nus nas pautas e nos roteiros de várias de nossas produções.
Até mesmo a poderosa Globo, antes presa ao seu famoso "padrão de qualidade", já anda mostrando a quem quiser assistir que se rendeu às preferências das classes C e D, recomendando, inclusive, que seus autores de teledramaturgia fiquem atentos às expectativas dessa faixa que, por seu crescimento vertiginoso, parece estar "ditando moda" em nossos dias, como se estivesse, para lançar mão de didática comparação, com o "grande controle remoto da TV brasileira" nas mãos!
Como cada um tem a sua opinião e há espaço sob o sol para todas elas, limito-me, aqui, a registrar humildemente a minha.
Acho ótimo que as pessoas tenham melhorado de condição financeira e que possam, sim, chamar a atenção das grandes emissoras para suas expectativas e preferências. Democracia é isso e é muito justo que a vontade do público seja levada em consideração ao se criar e levar ao ar uma grade.
Por outro lado, o que particularmente me incomoda é que a "popularização" seja geral, atingindo desde os nossos telejornais até a liberdade dos dramaturgos de escolherem os assuntos sobre os quais querem, de verdade, falar ou escrever.
Claro que é possível entender, como disse no post anterior, que a audiência de hoje queira se ver retratada nos programas a que assiste. A internet provocou uma onda de narcisismo que dificilmente vai baixar e que, ao contrário, tende a ditar - cada vez mais, pelo visto! - as regras e a metodologia de como se faz TV no Brasil, atualmente.
O famigerado IBOPE comanda tudo! Enquanto os números estiverem nas alturas, não há por que parar e refletir sobre a qualidade do que é oferecido ao público porque, muito infelizmente, a grande massa, na maior parte do tempo, não se interessa senão pelo sensacionalismo, pela tragédia alheia ou simplesmente pelo que reproduz - com o maior grau de fidelidade possível! - o "quintal" de suas próprias casas e as agruras mais comuns do seu dia-a-dia.
É justamente isso que considero lamentável. Porque a TV, como veículo de comunicação, tem, sim, de pensar no seu público e modelar sua linguagem a ele, mas, em contrapartida, estimular inclusive o que há de pior nas expectativas desse mesmo público é querer garantir audiência a qualquer preço - e, a qualquer preço, assim penso eu, nada de real valor pode ser obtido. Excessos, normalmente, não nos conduzem a desfechos muito felizes, porque norteados pela febre ou pela capitalista necessidade do triunfo cego.
E está aí a história da televisão no país para nos mostrar que os mais lamentáveis episódios em atrações televisivas foram frutos da ganância pela audiência de gente que, sem nenhum pudor, invadiu, desrespeitou, ridicularizou ou humilhou o outro apenas para se manter no topo do IBOPE.
Mas ao sugerir maior atenção e cuidado das emissoras de TV não me refiro também, em absoluto, à criação de conteúdos "politicamente corretos" ou entediantemente educativos, porque até o "bom-mocismo" cansa e nos soa artificial; refiro-me tão somente à preocupação que deve existir não apenas de entreter, mas também de ser útil ao telespectador, forçando-o a enxergar além da própria realidade, quebrando barreiras; constituindo-se não só num mero "espelho" do universo do telespectador, mas também num espaço de reflexão, discussão e revisão de valores, costumes e posturas o que, felizmente, vez ou outra acaba acontecendo, para a nossa alegria.
Popularizar pode ser algo ótimo. Respeitar e tentar agradar a públicos diferentes é um desafio muito nobre da televisão desde que ela se comprometa a cumprir tal meta sem se esquecer do compromisso que supostamente tem com a qualidade, a ética, a formação e a informação.
Acredito que podemos, sim, se realmente quisermos, investir em programação de qualidade, sem apelações nem baixaria, de caráter edificante sem ser doutrinador ou elitista.
Quem trabalha com comunicação sabe o quanto é importante disseminar o bom hábito do diálogo e da concórdia entre as pessoas.
Felizmente, "vezenquando" me deparo com exemplos inspiradores na televisão brasileira - mas isso será assunto para o meu próximo texto, combinado?
Por uma TV mais consciente e inteligente, assina:

O Ás Mascarado.

segunda-feira, 19 de março de 2012

UM NOVO TEMPO, UMA NOVA TV


A TV mudou demais ao longo dos últimos anos e décadas. Fisicamente, ela deixou de ser aquele trambolho enorme, que ocupava um espaço considerável em nossas estantes, e se transformou num objeto mais de acordo com os padrões estéticos vigentes, ficando mais esbelta, leve e fininha. Agora, em sua versão "top", ela também oferece uma resolução de imagem jamais vista, ocupando um espaço quase pífio, podendo ficar - oh, maravilhas tecnológicas! - até mesmo pendurada na parede de nossas salas, dispensando o altar que antes lhe era dedicado em quase todos os lares do país.
Mas até aí contemplamos, basicamente, apenas os avanços tecnológicos sobre os aparelhos televisivos da modernidade que, sem dúvida alguma, revolucionaram nossa forma de assistir aos nossos programas favoritos nos últimos tempos. As mudanças externas, como se pode ver, foram muitas e muito significativas, mas as internas, como também veremos, foram enormes e, podemos afirmar, igualmente definidoras e definitivas nesses novos tempos: a TV e seus programas, como você já deve ter notado, não são mais os mesmos.
Os programas mais vistos de antigamente - novelas e telejornais, carros-chefes de muitas de nossas maiores emissoras - hoje enfrentam, além da tradicional e natural concorrência de outros canais, também a forte concorrência de outras mídias, que "roubaram" para si a atenção e o tempo dos telespectadores, cada vez mais interessados em interagir com seus ídolos e, quando não, interessados em se tornar, eles próprios, qualquer sorte de pseudocelebridade, ainda que por contados minutos de fama, num reality show qualquer da vida ou nas incontroláveis páginas do YouTube e do Twitter.
Aliás, cumpre frisar, reality shows são, com toda certeza, a cara dessa nova geração de telespectadores dos anos 2000, interessada, sobretudo, em se ver estampada e reproduzida na telinha, num nítido ímpeto narcisista, tão vazio de conteúdo quanto repleto de vaidade, nonsense e soberba. Uma lástima, vamos convir.
Junte-se a isso o fato de que audiência raramente embarca com o mesmo encanto de antigamente nas produções televisivas atuais, simplesmente porque perdeu a capacidade de sonhar e fantasiar diante da TV. É a realidade do seu cotidiano que elas esperam encontrar ao ligar o aparelho televisor e sintonizar seu canal preferido e não mais aquele mundo inatingível das elites, do luxo e do glamour. Um fenômeno social bastante interessante e significativo, que diz muito sobre o perfil da programação da maioria das nossas Tvs abertas. Qualquer programa de "barraco" e baixaria, hoje, consegue mais audiência na TV aberta brasileira que um documentário de conteúdo ricamente produzido/elaborado ou um programa de debate que priorize a discussão inteligente de ideias e comportamentos.
As telenovelas, meninas dos olhos de qualquer grande emissora do país, também vêm mudando o seu perfil. Sua longa duração tem sido progressivamente encurtada e as histórias contadas ao grande público tendem a se aproximar, a cada nova produção, do realismo/naturalismo dominante no atual estágio da novela brasileira. É claro que exceções pipocam, de quando em vez, aqui e ali mas, em tempos de massificação, "ser diferente", não obstante, pode custar muito caro. Seguro mesmo é apostar na tendência que vem arrebatando a mais gorda fatia dos telespectadores que ainda se rende aos encantos da boa e velha televisão e "popularizar geral", alimentando o "monstro de mil cabeças" com aquilo que ele implora por consumir: sempre mais do deprimente e inculto mesmo.
E alguém aí se lembra dos programas infantis? Filão tão brilhantemente consagrado no Brasil por Xuxa e perpetuado por suas inúmeras imitadoras nos anos 80 e 90? Pois é. Ficaram lá, no passado! A audiência infantil dos nossos dias está mais conectada aos jogos e atrações virtuais do que naquele velho formato que, um dia, rendeu à televisão o simpático apelido de a "babá eletrônica". Não há qualquer atrativo para a criança contemporânea nos programas apresentados por palhaços, moças louras ou mesmo... outras crianças! Sim, tentou-se de tudo mas, ao que parece, nada cativou mais a fidelidade do público infantil. Também colaboram para esse retumbante fracasso as animações nonsense e escalafobéticas, muito diferentes dos bons e velhos cartuns de antigamente.
O jornalismo não ficou de fora dessa profunda transformação e decidiu tirar o terno e a gravata e se aproximar do público através de comentários mais descontraídos entre uma manchete e outra, transformando os âncoras em figuras mais carismáticas e simpáticas, próximas do telespectador. Sinal dos tempos: quem diria que a formalidade que sempre imperou no telejornalismo fosse dar lugar a um "papo menos formal" com a audiência?
Apelações? A televisão atual está saturada delas! Sejam de ordem sexual ou de caráter sensacionalista, qualquer atração da TV aberta atual, em algum momento, se rende àquilo que pode garantir décimos a mais na disputa acirrada pelo IBOPE.
Mas, em tempos de gratuidade e desinformação, nem tudo são agruras no universo televisivo.
Muito felizmente, mesmo num tempo em que a qualidade perde espaço para a quantidade nas nossas telinhas, há produções e profissionais de bom gosto e inteligência que resistem com talento e garra à "bundalização" da nossa cultura e, ao resistirem, acabam se constituindo em verdadeiros exemplos a serem seguidos.
O "Quem te Viu, Quem TV" é um espaço de valorização e discussão de tudo o que há de melhor e mais interessante na televisão brasileira atual.
Não é um espaço de fofocas nem uma revista sobre a vida das celebridades - a rede está repleta de conteúdos assim e, se você está à procura disso, sinto informar, clicou no link errado! É um canal aberto para a comunicação de boa qualidade e profissionais que prezem conteúdo, qualidade e informação em assuntos relacionados a produções televisivas. Gente que entende o papel importante desempenhado pela TV em nossa sociedade e que quer contruibuir para que o bom senso e a inteligência não abandonem de vez a programação já tão deficiente de nossas emissoras.
Assina o sempre alerta e colecionador de raridades televisivas:

Ás Mascarado