quarta-feira, 21 de março de 2012

POPULARIZAR É LEGAL?


Assistindo aos programas que pipocam na TV aberta, desde aqueles de auditório até as telenovelas, é inegável  que o fenômeno da popularização já se faz perceber a olhos nus nas pautas e nos roteiros de várias de nossas produções.
Até mesmo a poderosa Globo, antes presa ao seu famoso "padrão de qualidade", já anda mostrando a quem quiser assistir que se rendeu às preferências das classes C e D, recomendando, inclusive, que seus autores de teledramaturgia fiquem atentos às expectativas dessa faixa que, por seu crescimento vertiginoso, parece estar "ditando moda" em nossos dias, como se estivesse, para lançar mão de didática comparação, com o "grande controle remoto da TV brasileira" nas mãos!
Como cada um tem a sua opinião e há espaço sob o sol para todas elas, limito-me, aqui, a registrar humildemente a minha.
Acho ótimo que as pessoas tenham melhorado de condição financeira e que possam, sim, chamar a atenção das grandes emissoras para suas expectativas e preferências. Democracia é isso e é muito justo que a vontade do público seja levada em consideração ao se criar e levar ao ar uma grade.
Por outro lado, o que particularmente me incomoda é que a "popularização" seja geral, atingindo desde os nossos telejornais até a liberdade dos dramaturgos de escolherem os assuntos sobre os quais querem, de verdade, falar ou escrever.
Claro que é possível entender, como disse no post anterior, que a audiência de hoje queira se ver retratada nos programas a que assiste. A internet provocou uma onda de narcisismo que dificilmente vai baixar e que, ao contrário, tende a ditar - cada vez mais, pelo visto! - as regras e a metodologia de como se faz TV no Brasil, atualmente.
O famigerado IBOPE comanda tudo! Enquanto os números estiverem nas alturas, não há por que parar e refletir sobre a qualidade do que é oferecido ao público porque, muito infelizmente, a grande massa, na maior parte do tempo, não se interessa senão pelo sensacionalismo, pela tragédia alheia ou simplesmente pelo que reproduz - com o maior grau de fidelidade possível! - o "quintal" de suas próprias casas e as agruras mais comuns do seu dia-a-dia.
É justamente isso que considero lamentável. Porque a TV, como veículo de comunicação, tem, sim, de pensar no seu público e modelar sua linguagem a ele, mas, em contrapartida, estimular inclusive o que há de pior nas expectativas desse mesmo público é querer garantir audiência a qualquer preço - e, a qualquer preço, assim penso eu, nada de real valor pode ser obtido. Excessos, normalmente, não nos conduzem a desfechos muito felizes, porque norteados pela febre ou pela capitalista necessidade do triunfo cego.
E está aí a história da televisão no país para nos mostrar que os mais lamentáveis episódios em atrações televisivas foram frutos da ganância pela audiência de gente que, sem nenhum pudor, invadiu, desrespeitou, ridicularizou ou humilhou o outro apenas para se manter no topo do IBOPE.
Mas ao sugerir maior atenção e cuidado das emissoras de TV não me refiro também, em absoluto, à criação de conteúdos "politicamente corretos" ou entediantemente educativos, porque até o "bom-mocismo" cansa e nos soa artificial; refiro-me tão somente à preocupação que deve existir não apenas de entreter, mas também de ser útil ao telespectador, forçando-o a enxergar além da própria realidade, quebrando barreiras; constituindo-se não só num mero "espelho" do universo do telespectador, mas também num espaço de reflexão, discussão e revisão de valores, costumes e posturas o que, felizmente, vez ou outra acaba acontecendo, para a nossa alegria.
Popularizar pode ser algo ótimo. Respeitar e tentar agradar a públicos diferentes é um desafio muito nobre da televisão desde que ela se comprometa a cumprir tal meta sem se esquecer do compromisso que supostamente tem com a qualidade, a ética, a formação e a informação.
Acredito que podemos, sim, se realmente quisermos, investir em programação de qualidade, sem apelações nem baixaria, de caráter edificante sem ser doutrinador ou elitista.
Quem trabalha com comunicação sabe o quanto é importante disseminar o bom hábito do diálogo e da concórdia entre as pessoas.
Felizmente, "vezenquando" me deparo com exemplos inspiradores na televisão brasileira - mas isso será assunto para o meu próximo texto, combinado?
Por uma TV mais consciente e inteligente, assina:

O Ás Mascarado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário